terça-feira, 5 de agosto de 2014

[ Aula Resumo ] História do Brasil: Nova República



Com o fim da ditadura militar e a eleição de Tancredo Neves para presidente da República, inicia-se no Brasil um novo ciclo político e uma nova fase na história brasileira, conhecida como Nova República.  

Governo Sarney (1985 a 1989)

Tancredo Neves não chega a assumir o cargo devido à grave doença e morte repentina. José Sarney, então eleito para vice-presidência, assume o comando do Brasil no início de 1985 com o desafio de consolidar a transição democrática. 

Sem credibilidade popular, nem legitimidade política, teve que se deparar com grandes desafios para a estabilização política e em especial travar uma grande batalha contra a inflação dominante no país há mais de uma década. 

Sarney mantém o ministério maioritariamente nomeado por Tancredo em busca de apoio das bases políticas que articularam a vitória na eleição indireta contra o candidato apoiado pelos militares, Paulo Maluf. 

Foram propostas e implementadas várias mudanças institucionais para se iniciar a limpeza do chamado "entulho autoritário" do regime militar. 

Um pacote de emendas no início do mandato de Sarney, estabeleceu eleições diretas para os cargos executivos - grande aspiração popular bandeira do movimento "Diretas Já" que não foi concretizada no final do regime militar - além de outros avanços como o restabelecimento da legalidade dos partidos comunistas e a autorização do voto para os analfabetos. 

Foram também desmontados os serviços de informações, os aparatos repressivos, as intervenções em sindicatos, entre outras medidas consideradas autoritárias do regime anterior.   

Planos Econômicos

O governo Sarney se viu às voltas com um cenário hiperinflacionário no Brasil. O combate ao aumento de preços se deu por "pacotes" de medidas afetando diversas áreas da economia simultaneamente.

Foram implementados 4 planos econômicos com objetivo de conter a inflação e organizar a economia nacional, durante o governo Sarney:  

1 Plano Cruzado (1985)

  . Ministro Dilson Funaro
  . nova moeda "Cruzado"  
  . congelamento de preços e salários
  . combate à "inflação psicológica" (inércia)
  . busca de apoio popular ("fiscais do Sarney")

2 Plano Cruzado II (1986)

  . Ministro Dilson Funaro
  . descongelamento de preços e salários
  . ajustes fiscais e cortes de gastos
  . aumento de impostos e tarifas

3 Plano Bresser (1987) 

 . Ministro Bresser Pereira
 . contexto da moratória da dívida externa brasileira
 . medidas de ainda mais arrocho (cortes nos gastos, suspensão de subsídios, aumentos de impostos)

4 Plano Verão 

 . Ministro Maílson da Nóbrega
 . novo congelamento de preços e salários
 . nova mudança de moeda "Cruzado Novo" (atrelada ao dólar)
 . extinção da OTN (tentativa de desindexação)    

O congelamento de 1985 com o primeiro plano Cruzado favoreceu o consumo e conquistou apoio da população ("fiscais do Sarney").

O governo conseguiu capitalizar o apoio popular e conquistou grande vitória nas eleições em 1986.
No entanto, o congelamento prolongado gerou desabastecimento decorrente do recuo da oferta de produtos pelo mercado que estava insatisfeito com as perdas de margens de lucro. 

Pouco depois das eleições de 1986, o congelamento foi suspenso, a inflação retorna com ainda mais força e a instabilidade social e a insatisfação popular também retornam. 

Apesar dos 4 planos, o governo não consegue controlar a inflação e a situação econômica brasileira encontra-se em total caos no final do governo Sarney, com inflação chegando a 80% ao mês em 1989.   

A Constituição de 1988

A Frente Liberal, coligação que elegeu Tancredo e Sarney, manteve-se como aliança governamental e deu ampla base ao governo Sarney. Esta base era formada majoritariamente de parlamentares de centro-direita e foram estes parlamentares que foram incumbidos de elaborar a nova Constituição de 1988. 

A Assembleia Constituinte não foi exclusivamente constituinte pois os congressistas permaneceram com seus mandatos após concluída a nova Carta Constitucional. Uma das críticas à CF1988 foi de ter sido inserido em seu texto vários artigos de interesses de grupos políticos específicos, "inchando" o texto constitucional. 

O Governo conseguiu aprovar seus principais interesse, principalmente a manutenção do presidencialismo e a ampliação do tempo de mandato do presidente de 4 para 5 anos. 

Um grupo dentro do PMDB é contrário a estas ações do governo e das diretrizes do chamado "centrão" do partido. Este grupo, liderado por Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso sai do PMDB e funda o PSDB em 1988. 

Para mais informações sobre a Constituições de 1988, leia o post 25 anos da Constituição Cidadã e o post sobre Constituições Brasileiras aqui no Missão Diplomática.  

Política Externa    

Como mais uma forma de limpar o "entulho autoritário" do regime militar, o governo de Sarney reata relações diplomáticas com Cuba, adere aos regimes e preceitos de Direitos Humanos e de preservação ao Meio Ambiente - temas sobre os quais o Brasil era criticado internacionalmente por conta das práticas de tortura e pelo desmatamento sem controles. 

A política externa neste período foi especialmente marcada intensificação das relações bilaterais e multilaterais com os países latino-americanos e a manutenção das tensões com os EUA. 

Em 1986 foi institucionalizado o Grupo do Rio, que viria a ser base para a formação da atual CELAC. (Leia mais sobre o Grupo do Rio e sobre a Celac no post CELAC aqui no Missão diplomática.)

O Grupo do Rio teve como uma de suas principais características uma posição crítica ao intervencionismo da era Reagan. 

Nesta época, a abertura comercial promovida pelo Neoliberalismo norte-americano favorece substancialmente as exportações brasileiras e o governo de Reagan tem expectativas que o Brasil também abra sua economia, exercendo grande pressão sobre a legislação defensiva e protecionista brasileira - especialmente nos setores de software e computadores e na indústria farmacêutica. 

Em 1987, o governo americano insatisfeito com a postura brasileira, suspende o regime preferencial de tarifas com o Brasil, prejudicando vários produtos e empresas nacionais. 

Ainda em 1987, a questão da dívida externa brasileira chega a um limite e o Brasil tenta articular negociação conjunta com os países latino-americanos. O Brasil decreta moratória , na expectativa que os países da região também se mobilizassem criando um efeito dominó favorável para a negociação com os credores internacionais. 

No entanto, o Brasil não foi seguido e ficou em posição difícil para negociar sua dívida sozinho, tendo que cancelar a moratória após alguns meses e retomar os pagamentos ainda em 1987, aprofundando ainda mais a crise econômica interna.

O ponto alto da PEB com Sarney foi a aproximação com a Argentina, dando continuidade ao processo iniciado pelo governo anterior, do presidente Figueiredo.

Em 1986, Sarney assina a ATA de Integração Brasil-Argentina com o presidente Raúl Alfonsin, sendo pela primeira vez vislumbrado um propósito explícito de integração e cooperação com o vizinho. 

Além das aspirações econômicas, que viriam dar origem ao Mercosul, a ATA marca a superação definitiva das rivalidades históricas e a institucionalização da amizade com a Argentina. 

Com a criação, poucos anos depois, do Mercosul, percebe-se a desmilitarização definitiva das tropas brasileiras e quartéis na região do Prata. 

Governo Collor (1990 a 1992)  

A primeira eleição para Presidente da República após o regime militar foi marcada por uma grande fragmentação entre as forças políticas. Praticamente todos os partidos lançaram candidatos, sendo formadas somente 3 coligações. 

Políticos tradicionais como Ulysses Guimarães, Mário Covas, Paulo Maluf, Aureliano Chaves e Leonel Brizola não conseguiram chegar ao segundo turno, explicitando a divisão tanto das forças de direita quanto as forças de esquerda. 

A coligação formada pelos micro-partidos PRN, PSC, PST e PTR apoiando o candidato Fernando Collor, e a coligação de esquerda do PT, PSB e PCdoB apoiando Lula, conseguem chegar ao segundo turno. 

No segundo turno, o cenário de coligações muda, e acontece uma grande polarização entre forças de direita e esquerda. O discurso moralizador de Collor contra a corrupção e sua luta contra os "marajás" públicos conquista o apoio da parte mais conservadora da população, dos empresários e dos meios de comunicação em geral.   

Collor é eleito com grandes expectativas da sociedade, mas de forma inesperada, em seu primeiro ato no governo apresenta um plano extremo de congelamento da economia com o bloqueio de todas aplicações financeiras por 18 meses. 

O chamado Plano Collor tem embasamento fortemente neoliberal, prevendo um profundo enxugamento do Estado, com a privatização de empresas, congelamento de salários e demissões de funcionários públicos. 

O Plano Collor implementa abertura unilateral e não negociada da economia brasileira para produtos estrangeiros, como uma tentativa de dar um "choque de competitividade" na indústria nacional. 

Foi constituído o Programa Nacional de Desestatização (PND) com a venda de empresas estatais sem maiores critérios, como por exemplo a Usiminas, em 1991, então empresa altamente lucrativa. 

O Plano Collor não foi suficiente para acabar com a inflação e o cenário se deteriora ainda mais, levando o Brasil a um de seus piores momentos na economia com mais 4% de diminuição do PIB em 1990. 

O governo de Collor foi marcado, ironicamente, por denúncias de corrupção, esquemas de desvios financeiros e tráficos de influências, que acabaram por motivarem 1992, o primeiro processo de Impeachment de um presidente no Brasil.

Política Externa de Collor

Os pontos mais importantes da PEB no período foram a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNU-MAD 92) conhecida como ECO92 no Rio de Janeiro e a constituição do Mercosul, com a ATA de Buenos Aires em 1990 e o Tratado de Assunção em 1991.   

Governo Itamar Franco (1992 a 1994)

Com o impeachment de Collor, seu vice, Itamar Franco, assume o poder. 

Itamar consegue construir uma base de apoio e consenso político entre a maior parte dos partidos, exceto o PT.    

A inflação continua altíssima e foi o principal desafio do governo de Itamar.

Itamar dá continuidade ao processo de privatizações iniciado por Collor, sendo vendidas neste período empresas simbólicas do processo de industrialização brasileiro, como a Compania Siderúrgica Nacional (CSN) e a Embraer. 

Durante o governo de Itamar explodem grandes escândalos de corrupção, no entanto o presidente se mantém imune e sua imagem não é atacada. Itamar termina seu mandato com altas taxas de aprovação popular, principalmente pelo bom desempenho da economia com o controle da inflação proporcionado pelo Plano Real.   

Sem dúvidas o Plano Real foi o ponto alto do governo Itamar, que além de controlar a inflação, alçou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda e considerado o "pai do Plano Real", como próximo presidente do Brasil para os dois governos seguintes.  

Política Externa do governo Itamar

O breve governo de Itamar apresentou no plano das relações exteriores, a retomada do Globalismo Multilateral em contraposição ao alinhamento automático de Collor.   

Foi dada continuidade ao projeto do Mercosul, com assinatura do Protocolo de Ouro Preto, em 1994, e prioridades as parcerias SUL-SUL. 

Estiveram à frente do MRE, Fernando Henrique Cardoso, entre 1992 e 1993 e Celso Amorin entre 1993 e 1994.   

Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) 

O governo de FHC pode ser comparado ao de Juscelino, porém às avessas. 

FHC foi eleito devido ao sucesso do controle da inflação com o Plano Real, no final do governo Itamar, quando foi Ministro da Fazenda e um dos mentores do plano.

A maior preocupação de FHC durante seu governo, foi manter a estabilidade econômica e as bases do Plano Real, ficando a preocupação pelo crescimento econômico em segundo plano. 

O cenário econômico internacional neste período foi bastante conturbado e marcado por diversas crises: México em 1995, Ásia em 1997, Rússia em 1998 e o próprio Brasil como protagonista de uma crise cambial em 1999. 

O governo deu continuidade aos processos de privatizações dos governos de Collor e Itamar, com destaque para a privatização do setor de Telecomunicações e pela privatização da Vale do Rio Doce. As privatizações tiveram papel importante no financiamento das contas públicas e na manutenção da cotação do Real. 

Devido às restrições impostas aos salários do funcionalismo, o governo de FHC se defrontou com greves como a dos petroleiros e dos professores. 

Devido às restrições nos investimentos públicos o Brasil sofreu na qualidade dos serviços públicos, especialmente no setor energético quando o país viveu o chamado "apagão" em 2001 e 2002 com grave crise de abastecimento de energia. 

O baixo crescimento econômico, o "apagão energético" e as dificuldades com os serviços públicos e as políticas sociais foram fatores determinantes da perda do poder pelo PSDB e da vitória do PT nas eleições de 2002.  

Política Externa de FHC

FHC inicia uma fase de proeminência da atuação do Presidente da República na política Externa. 

Apesar das crises e do momento internacional conturbado, o Brasil começa a ocupar papel de maior destaque no cenário internacional, papel este que seria amplificado por Lula levando o país a um novo patamar como uma potência emergente. 

FHC retoma política de alinhamento e aproximação com os EUA, sendo um dos protagonistas da chamada Terceira Via em parceria com o presidente norte-americano Bill Clinton e o primeiro-ministro britânico Tony Blair. 

FHC acreditava no Neoliberalismo e em uma governança mundial como pilares para uma nova era da política mundial. 

O Brasil se envolve mais nas questões internacionais: participa na criação da OMC (1995) e da IIRSA (2000), ratifica o Tratado de Não Proliferação Nuclear (1998) e adota uma postura mais reivindicatória perante a ONU e por um assento permanente no Conselho de Segurança.  

Governo Lula (2003 a 2010)

Apesar da vitória nas eleições e de grandes expectativas populares, Lula chega ao poder com uma boa dose de desconfiança da classe média, dos empresários e da opinião internacional. 

No entanto, Lula forma ampla base política e demonstra grande capacidade de negociação com diferentes públicos, conquistando a confiança desde banqueiros e empresários até grandes políticos internacionais. 

O governo retoma proposta e foco desenvolvimentista, sem no entanto deixar de lado a preocupação com a estabilidade econômica conquistada pelo governo anterior. 

O governo se preocupa em conciliar o crescimento econômico com a aplicação de políticas públicas sociais e de preservação do meio ambiente.

O maior foco do governo neste período é certamente a questão social, na busca da redução pobreza e das desigualdades sociais - repercutindo as origens humildes de Lula como plataforma de governo, com programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.    

O desemprego no período cai de 10% para 5%; as taxas de juros caem de 25% a.a para 10% a.a (em média). 

O mercado financeiro cresce e se consolida com a estabilidade e crescimento econômico e com o crescimento do mercado consumidor. 

O crescimento médio da economia durante o governo Lula é acima de 4% a.a (em média) chegando ao pico de crescimento de 7,5 % em 2010. 

O PIB per capita brasileiro cresce de aproximadamente US$ 3.000 em 2003 para quase US$ 11.000 em 2010. Como comparação, o PIB per capita no início do governo FHC cai de US$ 4.750 em 1995 para US$ 2.820 em 2002. (fonte: Banco Mundial

Política Externa no governo Lula

Lula deu continuidade à política externa presidencialista de FHC, levando o Brasil a um protagonismo internacional sem precedentes e à posição de potência emergente. 

Com Celso Amorin à frente do MRE e Samuel Pinheiro Guimarães como secretário geral do Itamaraty, o governo Lula imprime um tom desenvolvimentista e autonomista herdados da Política Externa Independente de JK e Jango e do Pragmatismo de Geisel. 

Ao contrário de FHC, a PEB de Lula adota postura globalista multilateral e de autonomia perante os EUA, com privilégio para as relações SUL-SUL. 

O Brasil intensifica posição contrária aos subsídios agrícolas dos EUA e da UE perante a OMC e busca articulação dos países emergentes nas negociações internacionais. 

A proposta de mediação conjunta do Brasil e Turquia na crise nuclear do Irã, as sugestões sobre a crise no Oriente Médio bem como a participação efetiva na Missão de Paz no Haiti (MINUSTAH) são evidências do alargamento das ações e dos interesses brasileiros no cenário internacional. 

A prioridade da PEB neste período é o desenvolvimento das relações com os países sul-americanos, com consolidação dos acordos bilaterais e multilaterais e a consolidação da liderança regional. 

Outro destaque é a aproximação com a África. O presidente Lula visita mais de 20 países no continente africano durante seu governo, aumentando a quantidade de embaixadas, assinaturas de acordos bilaterais e fomentando o comércio e a atuação de empresas brasileiras na região. 

O Brasil incrementa o apoio tecnológico aos países africanos através da Embrapa, do Ministério da Saúde com campanhas de combate à AIDS, bem como o intercâmbio de estudantes e professores com universidades brasileiras. 

Veja abaixo, mais uma Aula Resumo com os principais pontos da Nova República para revisão e pesquisa rápida.   

  
            3 Banco Mundial

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